Corri cinco vezes por semana durante um ano e eis o que aconteceu

Há três anos atrás comecei a minha jornada de melhoramento físico quando me inscrevi numa escola de artes marciais durante um ano. E, para quem não me conhece, eu adoro artes marciais, mas se há algo para o qual eu não estava preparada era para correr todos os dias.

Eu corri cinco vezes por semana, duas vezes por dia, e eis o que aconteceu: continuei a odiar correr e a ter dificuldade!

Tenis da Nike

Fast forward três anos depois, o meu ano na China terminou e continuei a fazer vários desportos, mas nunca voltei a correr. E agora, depois de ter passado três meses à frente da secretária, o dia todo, a tentar terminar a minha tese de mestrado a tempo, decidi que correr ia ser a minha primeira atividade física depois de tanto tempo parada.

E, no que é que eu me fui meter?

Há procura de motivação, deparei-me com vários artigos que diziam: corri x vezes por semana e aconteceram maravilhas, fiquei mais rápida, ficou mais fácil, a minha cardio melhorou… e unicórnios apareceram nos arbustos para me congratular por ser tão fantástica!

Todos os bloggers de fitness parecem vender a lengalenga do quão maravilhosa é a consistência, mas nunca ninguém fala de quando o progresso que estávamos à espera não acontece .

Na minha academia correr fazia parte do treino diário, de manhã e à tarde, cinco vezes por semana e, mesmo assim, ao fim do ano continuava a sentir imensa dificuldade em correr todos os dias. Será que é porque sou menos espetacular que os outros? Será que há algo errado comigo? Será que tenho algum problema sério? Talvez sim ou talvez não. Mas talvez correr não é para todos e isso não faz com que sejamos menos aptos fisicamente, simplesmente temos de encontrar algo que nos anime mais.

Quando comecei a correr na academia, passado poucos minutos era logo atingida por pontadas no peito e a minha garganta ardia como se tivesse acabado de engolir vodka puro. Passado alguns meses o peito e a garganta estavam melhores, mas os gémeos continuavam a queixar-se cada vez que os pés batiam no alcatrão. E passado um ano, continuava a arrastar o peso morto do meu corpo dia após dia só para conseguir chegar à reta final.

Mas nunca desisti de correr.

Muitos alunos na academia que não gostavam de correr fingiam que tinham lesões para poderem escapar. E a certa altura, François (personagem do livro «As Crónicas de Shaolin») veio ter comigo, quando realmente estava lesionada, a perguntar-me se tinha deixado de correr. A sua resposta quando lhe disse que estava lesionada e regressaria na próxima semana foi “Pois, porque és a única dos alunos antigos que continua a correr, precisas de nos representar.” Porque razão, eu, que era a que mais pregava contra correr tinha de representar todos aqueles que tinham desistido?

E devo admitir, durante muito tempo tentei. Tentei manter o ritmo dos outros, à custa do meu bem-estar emocional. Porque me sentia desmotivada quando não conseguia. Até que desisti. Não desisti de correr, mas desisti de me mandar abaixo. A partir desse momento o que começou a importar não era o facto de que era sempre a última (última mesmo) a chegar ao destino. Não era o facto de que quando os outros estavam a regressar eu ainda estava a meio da primeira volta e era sempre ultrapassada. O que importava é que eu, ao contrário de muitos, aparecia e fazia o meu melhor relativamente ao nível com que me sentia confortável. E a partir do momento em que comecei a ser mais gentil comigo, não melhorei a minha condição física de forma drástica, mas comecei a apreciar mais a jornada.

Por isso, para todos os outros que não conseguem ser tão fantásticos como os bloggers de fitness, eu digo: não faz mal. O que importa é aparecer todos os dias ao treino, e talvez correr nunca será para ti. Por exemplo, eu não consigo correr mais do que um minuto de seguida, mas sou capaz de passar uma hora aos saltos numa aula de Body combat ou Kickboxing, porque artes marciais é algo que adoro. Não te desanimes por não seres capaz de correr e vai dançar, vai nadar ou andar de bicicleta, porque nem todos precisamos de atingir os mesmo níveis da mesma forma. Só porque a tua fitness instagramer preferida diz para tu correres, não significa que tenhas de ser como ela e gostar também. Procura a tua própria paixão!

Mas se realmente o teu objetivo é começar a correr, então coloca como objetivo a consistência ao invés de gostar de correr, ou correr depressa, ou até mesmo não sentir dores porque talvez passado um ano ainda vais sentir dores, tal como eu senti, mas isso não significa que não estejas a melhorar.

Outra coisa que deves ter em atenção é o chão onde corres. Na China eu corria em alcatrão, e alcatrão é muito mais duro para mim, enquanto que em Portugal corro em terra batida e sinto muito menos pressão. Também tenho problemas com o ácido do estômago que me obstrui as vias respiratórias quando não como os alimentos certos, por isso certifica-te de ir ao médico se realmente sentires que há algo errado. E ainda mais importante, tenta organizar o tipo de música que mais te motiva, ou vai sem música e sintoniza a tua mente e o corpo. Encontra o que serve para ti, mas acima de tudo sê gentil para contigo, porque consistência é algo do qual devemos sentir orgulho, o resto vem depois.

Patricia Morais na Feira do Livro de Lisboa com o livro Cronicas de Shaolin

Patricia Morais é autora de «As Crónicas de Shaolin», um livro que conta a sua experiência a estudar Kung-Fu na China, e descreve com honestidade as experiências que a levaram até lá, assim como os problemas de motivação que enfrentou para poder permanecer.

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