O pesadelo de escrever sinopses

Nota: Este foi um dos primeiros conselhos acerca de escrita que publiquei no blogspot, quando o meu primeiro livro ainda não tinha sido publicado.

Escrever sinopses!

Aqui está a derradeira história na vida dos autores que nenhum leitor deve prestar muita atenção. O “behind the scenes“, digamos, ao qual ninguém presta atenção.

Eu digo isto porque, pelo menos até o momento ter chegado, nunca pensei duas vezes sobre o assunto. 

Do que estou a falar?

Ora, daquele pequeno texto contido normalmente na capa traseira de um livro ou numa das abas do mesmo: a sinopse.

É verdade que ninguém conhece melhor a obra do que o próprio autor(a). É ele(a) que sabe de onde a ideia lhe surgiu, o porquê dos seus personagens agirem como agem, o que irá acontecer a seguir, mesmo antes da ideia ser sequer proposta na história. São também eles que conhecem, melhor que ninguém, os sentimentos dos seus personagens e a mensagem que querem transmitir com a sua história.

Por todas estas razões, quem deveria ser a melhor pessoa para escrever a sinopse? O autor! 

 

Então, porque parece um monstro de sete cabeças quando chega o momento?

Durante muito tempo foi-me impossível de responder a essa pergunta.

Parte de mim não acreditava que a resposta estivesse 100% correcta. Cada vez que alguém me perguntava: “oh, escreveste um livro? É sobre o quê?” A minha resposta era sempre um bocado engasgada, cheia de hmm’s, e ahm’s… “Ficção paranormal?”, “Vampiros e lobisomens?”  Mas não era bem isso que eu queria responder.

É verdade que o meu livro está contido no género de ficção paranormal, ou romance paranormal. E é verdade que a grande maioria das personagens são humanos, vampiros e lobisomens. De uma maneira ou de outra, essa era a descrição mais rápida e genérica que eu podia dar acerca da minha obra, mas não lhe dava a mais pequena justiça. Existe tanto que fica a faltar nessa descrição.

A meu ver, a minha obra expõe alguns dos meus maiores medos e a maneira que encontrei de lidar com eles, alguns do meus pensamentos – alterados para lhe dar um conteúdo que se integrasse na história –, e mensagens poderosas. Tudo isso não pode ser descrito em frases com apenas duas palavras. Mas também não pode ser descrito em apenas uma página que caiba na parte traseira de um livro.

Quando estamos a apresentar a nossa obra a uma editora,  aqueles que já leram conselhos acerca disso, devem saber que devemos expor tudo o que acontece na história. É um resumo total. Eles estão interessados até no final. Mas seria horrorífico fazer tal maldade aos leitores. Ninguém está interessado em ler primeiro o resumo, saber o que acontece no final e depois ir ler as restantes 300 páginas, se já sabem tudo o que acontece de importante .

Existe um imagem bastante interessante que vi acerca do assunto que me fez descobrir o porquê da maneira como me estava a sentir:

Sinopses: se eu quisesse contar a minha história numa página, não tinha escrito as outras trezentas

Passamos meses, às vezes até anos, a desenvolver uma história e agora pedem-nos que tiremos 99% dessa história e expliquemos apenas 1%?

Isto levou-me a escrever dois tipos de sinopses. Mas tanto numa como na outra apercebi-me, depois de ver a sinopse sugerida pela minha editora, que estava apenas a descrever os primeiros dois capítulos da história. 

 

O que aprendi depois de ter visto a sinopse final? 

Começa sempre com uma frase forte. A primeira frase deve incentivar o leitor a ler o resto da sinopse. Não deve fazer com que ele boceje e decida pousar o livro.

Se for possível, inclui algo acerca da personalidade do personagem. Algo que ela(e) deseja e que, de certa maneira, vai moldar a maneira como ela(e) age no decorrer da história. Isto faz com que os leitores sintam de imediato que conhecem o personagem e até mesmo que se identificam com ela(e).

Insere o conflito e o perigo. Mostrar que nem tudo na história vai ser um mar de rosas, e de forma a não revelar nada de importante. Dar aos leitores “um cheirinho” dos perigos que o personagem enfrenta.

Na primeira versão sugerida pela editora, estes foram os três pontos que percebi serem necessários.

Até receber um novo e-mail a sugerir a adição de uma nova linha: o “fator romance”. Para muitos (isto principalmente se forem rapazes ou pessoas não muito românticas), pode não ter muita importância, mas vamos ser honestos: existem livros que foram escritos à uns bons milhares de anos e, por alguma razão, só começaram a ter tanto sucesso quando alguém decidiu adaptar a história e pôr romance à mistura. Seja qual for o género de livro que leiamos existe sempre romance à mistura. Pode não ser a mensagem principal a ser transmitida, mas está lá…

E com isto tudo, aqui fica a sinopse do meu livro que estará disponível no site da Coolbooks, Porto Editora, no dia 28 de Novembro:

Lilly Ashton não podia imaginar vida mais perfeita que a sua, até à terrível noite em que tudo mudou.

A única maneira que encontra para sobreviver à tragédia é fazer o que sempre desejou: ser impulsiva.

Afasta-se de tudo e todos quando se muda para Jillian e decide estudar Folclore e Mitologia, mas depressa se encontra numa corrida para salvar a própria vida, ao descobrir que os monstros que se escondem debaixo da cama existem mesmo.

Para garantir a sua sobrevivência, junta-se a Diabolus Venator, a organização de caçadores de demónios daquela pequena cidade, onde conhece Liam, o misterioso jovem que a enfurece e surpreende todos os dias. Mas nem todos os que lutam com ela têm o mesmo objetivo, e o perigo que enfrenta pode ser maior junto dos que a rodeiam do que na batalha contra os demónios. Num mundo onde as lendas são reais, em quem poderá Lilly confiar?

Gostaram? 

Se achas que este post te ajudou a entender melhor como escrever sinopses ou se tens mais exemplos que não abordei, deixa um comentário!

Patricia Morais é autora de «Sombras» publicado pela Coolbooks. E porque acredita que ainda não passa demasiado tempo à frente de um computador a escrever, ainda regista no seu blog as suas experiências de escrita e traduz os conselhos de outros autores de língua inglesa.

Patricia Morais com E-book de Sombras

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