Quotation: the act of repeating erroneously the words of another.
– Ambrose Bierce
A quotation is a handy thing to have about, saving one the trouble of thinking for oneself, always a laborious business.
– A. A. Milne
Tenho uns quantos posts planeados para os próximos dias, mas confesso que quando sai de casa hoje (com um único pensamento na mente: voltar para a cama e começar a escrever), não sai com a intenção de escrever sobre a razão pela qual citações nos inspiram.
Este era um dos posts planeados, mas estava a pensar traduzir um bom conselho de Veronica Roth onde ela compara o processo de escrita com o acto de escalar uma montanha, mas depois algo aconteceu, e tornou este dia na altura ideal para falar de tal tópico.
A surpresa que a minha amiga me preprarou!
Ontem estava a falar com uma amiga (e companheira de casa) e expliquei-lhe como adorava frases que me inspiram, sejam de músicas, filmes ou escritores. Coisa que ela está farta de saber, porque cada vez que algo acontece tenho sempre alguma frase inspiradora para lhe atirar à cara.
A resposta dela ontem foi: “Cada vez que dizes isso fazes-me sempre lembrar o ‘cujo-nome-não-deve-ser-mencionado-porque-tem-um papel-bastante-negro-nas nossas-vidas'” É um nome engraçado, não acham?
Mas a razão pela qual, o que ela disse me chocou foi porque a pessoa em questão é muito espiritual (mas não é religiosa), algo que eu não me considero de todo.
A minha resposta: “Porquê? Porque parece ser muito espiritual? Talvez tenhas razão, mas isso é porque eu adoro tudo o que tenha a ver com inspiração. Eu não sou religiosa, mas citações talvez sejam a minha religião. Todos nós temos de nos agarrar a qualquer coisa para nos ajudar a atravessar os tempos de tempestades.”
Ok, eu não disse isto com todas estas palavras bonitas de escritora, mas foi esta a mensagem que lhe transmiti.
Hoje quando cheguei a casa, ela tinha colado na minha janela como surpresa uma série de citações escritas em post-it que foi desenterrar do meu Facebook. E daí ter decidido escrever este post.
In quoting others, we cite ourselves.
– Julio Cortázar
A minha paixão por citações começou quando tinha uns 13 anos, e vi o filme “Diário de Uma Princesa”. Mia recebe uma carta do pai e ele escreve: “Os audazes podem não viver para sempre, mas os cautelosos não vivem de todo”.
Na minha ingenuidade de adolescente essa frase bateu-me tão forte, que a partir desse momento decidi que era a minha missão viver uma vida de aventura (algo que tenho sido bastante boa em atingir). Escrevi essa frase vezes sem conta em papeis, enquanto estava distraída, e foi daí que veio a minha paixão por citações.
Não, não sou a única. Não sou a única a…
Por alguma razão, acredito que os escritores devem estar entre aqueles que mais se baseiam em citações como forma de inspiração. Existe uma razão pela qual passamos tanto tempo à procura das palavras certas. Nós queremos inspirar, queremos saber que existe alguém que vai levar as nossas palavras a peito e extrair uma lição de vida através do que dissemos.
Esta é a decoração de uma das paredes do meu quarto: algumas frases de "Sombras" traduzidas em inglês
Em Sombras, o primeiro parágrafo do capítulo vinte e dois tem 65 palavras E foi inspirado em apenas uma frase, que me bateu no momento certo “It’s where my demons hide”, a música de Imagine Dragons, Demons.
No capítulo vinte e três, de forma a poder escrever o primeiro parágrafo, desperdicei uns quantos minutos à procura de quotes no Goodreads acerca de “grief”.
Não é à toa que muitos blogs de escritores, ou de leitores, escolhem pôr na sua barra lateral uma miniaplicação que os direciona imediatamente para as suas citações preferidas.
Por vezes as citações só nos lembram de algo que já sabíamos, mas que esquecemos ao ser constantemente lembrados dos stresses da vida, e funcionam como pequenos lembretes. E outras vezes funcionam como novas maneiras de ver uma certa situação (ou vida em geral).
Por isso se me perguntarem: importa assim tanto escolher as palavras certas para cada frase?
Sim, importa, nunca sabemos quem é que podemos estar a inspirar.
Patricia Morais é autora de «Sombras» publicado pela Coolbooks. E porque acredita que ainda não passa demasiado tempo à frente de um computador a escrever, ainda regista no seu blog as suas experiências de escrita e traduz os conselhos de outros autores de língua inglesa.