Todos temos segredos.
É talvez uma verdade universal ainda maior que a grande linha de abertura do romance de Jane Austen, Orgulho e Preconceito.
E, para nós, escritores, talvez a verdade desta afirmação seja um pouco mais atenuada do que para a maioria das pessoas. Porquê? Porque descobrimos, através da nossa escrita, maneiras criativas de distorcer os nossos segredos. Tudo aquilo que despejamos nas nossas páginas são, de uma maneira ou de outra, pensamentos nossos que precisavam de ser partilhados sem nos sentirmos intimidados pela nossa vulnerabilidade.
Todos os nossos personagens contêm parte de nós, quer seja aquele que é baseado na versão que vemos do nosso amigo, ou como gostaríamos que fosse a nossa amiga. A descrição que fazemos daquele terrível defeito que tem o nosso melhor amigo, lá porque é baseado noutra pessoa, não deixa de ser uma percepção nossa. As qualidades fantásticas que vemos na nossa melhor amiga, apesar de fazerem parte dela, são reflexões nossas.
É por isso que a melhor maneira de descrever um vilão é ao utilizarmos um pouco de nós, ao partilharmos as nossas piores qualidades e os nossos segredos mais obscuros. Como Veronica Roth diz “os nossos vilões devem sempre reflectir parte de nós” (ou talvez tenha sido Kari Allen, que ouviu de Katherine Patterson. Isto começa a soar como um amigo disse-me, que o amigo dele disse, que ouviu de um amigo… Mas mesmo assim não se torna menos válido).
Temos então de olhar para as nossas características mais desagradáveis e explorar aqueles sentimentos mais obscuros de forma a tornar os nossos vilões convincentes.
A boa notícia é que esta autoexploração é mais barata do que ir ao psicólogo.
Patricia Morais é autora de «Sombras» publicado pela Coolbooks. E porque acredita que ainda não passa demasiado tempo à frente de um computador a escrever, ainda regista no seu blog as suas experiências de escrita e traduz os conselhos de outros autores de língua inglesa.