Este artigo é baseado numa reportagem pela Euronews, e um artigo do jornal Reuters, no entanto não é um artigo traduzido à letra.
Como praticante das artes marciais, algo que sempre oiço de cada vez que expresso a minha paixão pelo desporto é: “Isso não é para mim, não gosto de desportos violentos,” ou “Como é que uma rapariga tão calma como tu pratica artes marciais?” ou até mesmo “’És tão violenta!” Ao que a minha veia mais contestadora me leva logo a iniciar um discurso sobre todos os benefícios que provêm da prática das artes marciais.
E, ao que parece, não estou sozinha…
Uma vez que em Itália, num bairro carenciado de Nápoles, um padre descobriu que a melhor maneira de manter os jovens afastados da rua é através do seu programa de boxe. O Padre Antonio Loffredo, responsável pela igreja Santa Maria della Sanita, já iniciou vários projetos a fim de desviar a atenção destes jovens para uma vida de crime. Algo problemático, quando a taxa de desemprego para os jovens entre os 15 e 24 anos de idade range os 40% e a única opção de emprego parece ser a máfia.
No entanto, de todos os programas socioeducativos que fundou, o boxe parece ser o que está a ter um maior nível de sucesso. Tanto que, três vezes por semana, cerca de 60 jovens, entre os 8 aos 22 anos de idade, juntam-se em redor dos sacos de boxe que agora decoram a igreja construída no século XVII.
O boxe é a forma que estes jovens encontraram para se expressarem e darem forma às suas frustrações, ao esmurraçarem o saco de pancada. Enquanto que, lá fora, outros jovens espancam-se uns aos outros nas ruas do distrito de Rione Sanita.
“Pratiquei muitos desportos diferentes,” contou Rodrigues, um jovem de origem Cabo Verdiana e um dos 60 jovens beneficiários do projeto, ao jornal Reuters. “Mas boxing é o único que me faz sentir bem, tanto a nível físico como mental, e que me permite exprimir as minhas emoções, quer seja de raiva ou felicidade.
Ao contrário do que muitos pensam, as artes marciais não são desportos implacáveis onde tudo conta. Existem regras para o jogo, e estes jovens aprendem-nas todas: como se focarem, como se desviarem de um ataque e como manterem a calma. Regras necessárias para os ajudarem a enfrentar as vidas lá fora e a aumentarem a sua autoconfiança.
Ainda mais, as aulas são ensinadas por dois polícias. E por conseguinte, este facto contribuiu para a renovação da relação que este jovens tinham com a polícia, outrora tensa. E os benefícios não se estendem apenas para os mais novos, Davide Marotta, residente no bairro e assíduo no ginásio-igreja, decidiu começar a ajudar os jovens na prática do desporto depois de ter testemunhado muitos dos seus amigos a serem presos. E, jovens como o Rodrigues têm agora a autoestima e otimismo necessário para perseguirem os seus sonhos.
“Ensinar resistência e adaptabilidade aos jovens num bairro onde nem sempre há futuro é bastante difícil,” diz o Padre Antonio Loffredo. “Dizemos aqui em Rione Sanita: se é possível fazê-lo aqui em Rione Sanita, então é possível em qualquer lugar. É esta a mensagem.”
Se conheces mais algum programa que utiliza as artes marciais como forma de ajudar os jovens não hesites em deixar um comentário a falar um pouco sobre o projeto. Há que quebrar o preconceito que existe por vezes contra este desporto bastante benéfico.
Patricia Morais é autora de «Crónicas de Shaolin», um livro que conta a sua experiência a estudar Kung-Fu na China, e descreve com honestidade as experiências que a levaram até lá, assim como os problemas de motivação que enfrentou para poder permanecer.