Escrever a sequela quando a tua história ainda não acabou.
Oh… Veronica Roth! Não sentiram falta dos conselhos dela? Eu senti!
(Infelizmente o blog da Veronica Roth já não está activo e não posso colocar o link do conselho original).
E, agora que um novo capítulo se aproxima, qual é a melhor maneira de voltar a falar sobre os seus conselhos, a não ser com um conselho sobre a continuação da história: sequelas.
Pois bem, escrevemos um livro, conseguimos arranjar uma editora que o publicasse, publicámos o livro, e agora? Fácil. Continuamos a escrever. Tenha a história continuação ou não, a resposta é a mesma. Já acabaste esta história? Ótimo! Passa para outra.
Mas se a tua história ainda não acabou…
A minha grande mentora no que toca a conselhos sobre escrita, também possui um para me inspirar agora.
Ok, imaginemos o seguinte:
“Há muito, muito tempo. Era eu uma criança…” (não foi assim há tanto tempo que eu era uma criança, mas lembrar-me desta música faz-me pensar que sou mais velha do que realmente sou).
Voltando ao tópico.
Há algum tempo atrás surgiu-te uma ideia, uma pequena ideia, mas que mereceu a tua atenção e decidiste começar a explorar. Essa ideia pode ter-te surgido apenas como uma imagem. A minha foi a imagem de uma árvore rodeada de nevoeiro, e como por instinto descobri logo onde é que essa imagem pertencia. É nestas alturas que a mente humana me surpreende; a importância que uma simples árvore teve na minha vida.
HALLO! Terra chama Patricia, estás novamente a desviar-te do assunto. Onde é que eu ia?
Uma imagem aparece-te na mente, a imagem de uma árvore, na altura menos oportuna (a aula de Álgebra), mas por sorte tens o teu caderno de apontamentos contigo. E quem é que quer ouvir a professora a falar de matrizes e uma data de zeros e de uns? (OMG! Acabei de descobrir que a razão pela qual chumbei a Álgebra foi por causa do meu livro). Mas continuando, pegas no caderno de apontamentos e escreves: “Ideia para livro”.
Neste ponto os personagens são conhecidos apenas como “rapariga” e “rapaz”. No final da ideia tens: pesquisar isto, isto e aquilo. E ainda Ideia A, Ideia B, Ideia C e Ideia D escritos nos teus apontamentos.
Três anos depois de sonhares acordada tens um livro escrito, quatro anos depois tens um livro publicado. E agora?
Quando a imagem da árvore me surgiu, muito próximo do dia de Halloween, nunca tinha pensado em tornar o meu livro numa trilogia. A ideia original era apenas um livro que punha um ponto final à história de Lilly, mas conforme comecei a escrever ideias novas foram surgindo e, pequenas coisas que tinha intenções de colocar na história foram adiadas. Até que me comecei a perceber que estava a ficar demasiado grande e precisava de por um ponto final por enquanto, mas ainda tinha potencial para continuar.
A Veronica Roth fala num exemplo para descrever as sequelas que acho bastante apropriado. estás num barquinho de caca no meio do oceano. De repente, existe um furo no teu barco. E pensas, “OH BOLAS! VAMOS NOS AFOGAR! VAMOS TODOS MORRER SE NÃO TAPARMOS ISTO!” Consegues tapar o buraco, mas continuas num barquinho de caca no meio do oceano, e precisas de encontrar terra. Quando o teu primeiro livro acabas pensas, “OH BOLAS! AINDA ESTAMOS NESTE BARCO!” O próximo passo é sair do buraco, mas não para dentro de água, óbvio, tens de arranjar maneira de encontrar terra.
Voltando ao início, passamos três anos a sonhar acordados e finalmente pusemos o ponto final na história. Não deveríamos pensar “Bolas, passei tanto tempo a escrever isto e agora ainda vou fazer a asneira de continuar? Não devia ter terminado com o ‘viveram todos felizes para sempre’?” Não funciona assim quando se é escritor. “Aceitação, o último estado que todos desejamos conseguir atingir.”
Acho que não estou sozinha quando falo daquela ideia irritante que insiste em vir-nos à mente, e por mais que a ignoremos ela continua a voltar e a voltar, até que finalmente levantamos os braços no ar e desistimos: “OK, OK. EU VOU-TE ESCREVER! AGORA PARA DE ME CHATEAR!”
Mas e o pesadelo da história? Ah, pois é… escrever não é um mar de rosas. Nunca foi e nunca será. Stephen King diz “os amadores sentam-se e esperam pela inspiração, os restantes levantam-se e vão trabalhar”.
Escrita exige autodisciplina, trabalhar mesmo quando não há vontade. Mas agora é tudo muito pior porque: o primeiro foi escrito a pensar, “bem, se for uma bosta não faz mal porque ninguém vai ler”. O segundo é escrito a pensar “oh bolas, o holofote está mesmo a bater na minha cara. Está tudo a olhar para mim! Será que eles conseguem ver que estou a usar roupa interior por baixo disto?”
Se o primeiro tiver sucesso, por alguma razão é, mas essa razão nem sempre é evidente para o escritor porque nós não possuímos o mesmo olhar objectivo que o leitor. A nossa história é o nosso bebé e sabemos todos os seus detalhes, mesmo aquilo que escolhemos não apresentar ao leitor. Depois dão-nos um papel e uma caneta e dizem: faz igual.
O que fazer?
Tal como Veronica Roth aconselha, e eu tenciono seguir como uma mantra enquanto escrevo o segundo livro, “pensa na trilogia como um livro só, com o mesmo enredo, os mesmos personagens, e com a mesma corrente de pensamento. A história tem de continuar, mas a exploração não pode desaparecer” (um dos aspetos que eu acho que torna o meu livro bastante “meu”, por assim dizer, é a existência da exploração de emoções humanas como raiva, depressão, negação etc.) “dá um passo de cada vez, um livro de cada vez, uma cena de cada vez”.
E quanto às críticas negativas, lembrem-se que não é possível agradar a todos, a única coisa que podemos esperar é aprender com as críticas e tornarmos-nos melhores e seguir o conselho de Sinclair Lewis “é impossível desencorajar os verdadeiros escritores, eles não querem saber do que dizes, eles irão escrever”.
«Sombras» já está disponível no site da Coolbooks!
Já escreveste um livro que tenha uma continuação, ou pensas em escrever um livro com sequela? Deixa um comentário a dizer o que te disciplina e te dá motivação.
Patricia Morais é autora de «Sombras» publicado pela Coolbooks. E porque acredita que ainda não passa demasiado tempo à frente de um computador a escrever, ainda regista no seu blog as suas experiências de escrita e traduz os conselhos de outros autores de língua inglesa.