Dicas para escrever cenas de grupo e adicionar conflito.
Ultimamente tenho andado a rever algumas cenas dos capítulos anteriores da sequela de «Sombras». Uma vez que me encontro presa no último capítulo que me falta do seu irmão continuação. E, desta vez, decidi atacar um problema que me deixa a hiperventilar, me obriga a comer uma tabelet inteira de chocolate e me faz olhar para o monitor com lágrimas nos olhos…
Cenas de grupo!
Cenas de grupo são ótimas na televisão. Todos adoramos FRIENDS ou New Girl por causa de uma boa dinâmica de grupo. Até mesmo o filme “IT” é um éxito, na minha opinião, devido à dinâmica entre os personagens.
Nos livros essa dinâmica também é essencial, mas é algo que tenho dificuldade em escrever.
Não é que as considere por norma mal escritas, mas as personagens parecem um pouco por todo o lado. Nunca me entendo com quem fez o quê, onde estão e, acima de tudo, como a tornar realmente provocante de forma a que o leitor continue a pensar: “Não, não vou dormir já, só mais uma página. Eu prometo que depois desta fecho o livro/apago o tablet.”
Então comecei a fazer uma pequena pesquisa e eis o que encontrei:
Primeiro: Quem são os personagens envolvidos na cena?
(eu até fiz o favor de fazer um desenho para compreensão. Esta cena faz parte da sequela de «Sombras» para provar a sua efetividade, o que permite já um cheirozinho – digam lá que não sou amiga.)
Nota: sintam-se à vontade para elogiar os meus dotes artísticos. E não, estes dois bonequinhos da direita não são anões ou crianças, são apenas desproporcionais.)
Agora tens os personagens e onde estão dispostos no cenário. Acreditem estes detalhes ajudam na precisão da história e fazem com que se pareça mais real. É preciso acreditar para fazer os outros crerem.
O que nos leva à próxima pergunta…
Segundo: Qual é o objetivo?
(Não é óbvio? É uma reunião de ornitólogos que vieram todos para o chá!! Quem não quer isso num livro de fantasia?)
Nop, é uma reunião de planos maléficos pelas mentes criminais de Jillian. O objetivo? Ser maus e fazer planos para destruir o mundo (ou talvez apenas uma pequena organização com uma dúzia de pessoas, eles não são muito ambiciosos).
E dentro deste objetivo vamos prestar atenção ao porquê de estarem assim dispostos.
Primeiro, sabendo que o solitário, barra penteado de Hitler, ali sentado naquela poltrona magnífica é o Claudius Blanchard. Os anões/crianças são o Albert e a Angelica Lebrun. A ornitóloga, com o penteado acabado de sair do filme Disney Brave, Madeleine Lebrun e os restantes os lobisomens de Davenport. Porque não está o Claudius sentado ao lado de uma das belas amigas de Randall Davenport? Ou o Albert a beber o cházinho que Claudius preparou com tanto amor e carinho?
Esses detalhes são o que torna os teus personagens únicos e distintos entre si. Concede-lhes o poder de terem uma voz própria e não se misturarem todos no papel.
Terceiro: Quem são os personagens principais?
Num livro não tens apenas os personagens principais, certo? Apesar de serem os que têm maior destaque precisam do apoio das personagens secundárias. Nas cenas de grupo focamos-nos no inverso. (Sim, temos vinte pessoas, mas quando um burro fala o outro baixa as orelhas.)
Em grupos grandes existe uma tendência para se dividirem em grupos menores, se acontece na vida real porque não haveria de acontecer no mundo fictício?
Agora foca-te: como interagem essas personagens entre si num dado grupo? Que particularidades têm que os torna mais chegados. O que diz das suas personalidades ao juntarem-se a uns e não a outros?
O que nos leva ao quarto ponto…
Quarto: Qual é o conflito?
Uma história onde a Maria e o João são alunos do sétimo ano, juntamente com a Madalena, o Roberto, o Joaquim e a Mariana. Onde todos se dão bem, são felizes e fazem todos os trabalhos de casa, pode ficar bonita na vida real quando o que queremos é descomplicações. Mas não possuí nem metade do interesse quando a história fala da Maria, a melhor aluna da turma que sempre faz os trabalhos de casa e tem o João sempre a chatear a querer copiar. O Roberto, o melhor amigo da Maria, não vai com a cara do baldas do João nem pintado, por isso estão sempre às turras. Mal os dois rapazes sabem que a Mariana, a namorada do João tem um fraquinho pelo Roberto. E, em contra-partida o melhor amigo do João, o Joaquim, está perdidamente apaixonado por ela.
Viram? Os personagens são os mesmos, o que se acrescentou foi conflito.
Quando contas uma história ao teu amigo sobre lavar o carro, não a contas se chegares lá lavares o carro e pagares. Só achas que essa história passa a ter importância quando realmente alguma coisa te impede de lavar o carro ou alguma coisa se põe no teu caminho quando vais para pagar. Há algo que se interpõe entre ti e o teu objetivo.
Uma história sobre vampiros e lobisomens que se odeiam uns ao outros é um material de leitura muito mais interessante que oito ornitólogos a beberem chá e a discutirem civilizadamente quantas espécies de aves são coleópteros e quantas espécies são lepidópteros. (Caso ainda não tenham percebido, aquela coisa ao lado da rapariga do Brave é um pássaro, e aquilo ao lado de Hitler é uma chávena de chá. Eu sei deveria ter ido para Belas Artes.)
Posso dizer que este método me ajudou imenso, e um capítulo constantemente deixado para trás já começou a despertar o meu interesse.
Para quem ainda não leu «Sombras» pode aproveitar para ler um excerto em http://bit.ly/1vsqkSJ ou adquirir em www.coolbooks.pt/sombras.
Para os que já leram, aguentem-se mais um bocadinho que a sequela está cada vez mais próxima.
Patricia Morais é autora de «Sombras» publicado pela Coolbooks. E porque acredita que ainda não passa demasiado tempo à frente de um computador a escrever, ainda regista no seu blog as suas experiências de escrita e traduz os conselhos de outros autores de língua inglesa.