Criar playlists para escrever

Nota: Este foi um dos primeiros conselhos acerca de escrita que publiquei no blogspot, quando o meu primeiro livro ainda não tinha sido publicado.

SEP Worksheet Playlist

Como utilizar playlists para começares a escrever

Recentemente dei por mim com uma grande falta de vontade de escrever (que surpresa).

O que veio destruir um bocado a ideia generalizada que tinha. Tinha a sensação que, quando estou em casa (Portugal), escrevo sempre melhor. Ou porque é Verão, ou porque a minha cama e a minha secretária dão-me mais conforto, ou simplesmente porque adoro sentar-me com a minha caneca, abrir a janela e ouvir o som dos pássaros e das palmeiras na rua.

Seja qual for a razão pela qual costumava sentir-me inspirada, desta vez isso não aconteceu como por magia assim que cheguei a Portugal. E, aquele entusiasmo todo com que vinha, foi deitado pelo cano abaixo e só me restou pensar “oh bolas, que raio vou eu fazer agora?”

Resposta: Parar de te queixar e começar a trabalhar.

E assim o fiz. Dei-me ao luxo de umas semanas de prazer para visitar amigos e aproveitar o Verão. E, depois peguei na minha caneca, abri a minha janela e comecei a martelar no teclado. 

Mas primeiro pensei: “deixa-me cá repetir as músicas que andava a ouvir o ano passado quando estava a escrever”.

Seguido de: “que engraçado, parece que estou novamente a lembrar-me de todo aquele processo criativo, e de como me sentia animada a escrever. Será que esta banda tem músicas que ainda não conheço?”

E surpresa!! Até tinha! Quando dei por mim estava novamente a teclar alegremente no meu teclado e a escrever novas páginas de uma história que precisava de ser contada.

 

Qual o objectivo de toda esta lenga-lenga? Explicar como a música ajuda no processo criativo.

Não sei quantos de vós seguem blogs de escritores ou alguma vez se sentiu curioso em cuscar um bocado, e se deparou com uma playlist qualquer do vosso livro preferido.

O que é certo é que escrever playlists para os seus livros, parece ser a nova moda à qual os escritores aderiram. E devem vocês pensar : “estes escritores devem pensar que estão a escrever filmes ou séries de televisão. Porque raio haveriam de precisar de músicas?” Admito que pensei isso a primeira vez que me deparei com tal coisa, fiquei “bolas, eu estava à procura do soundtrack do Twilight. O FILME! Não do que ela andava a ouvir enquanto escrevia”.

No entanto, por alguma razão existem músicas  nos filmes.

Nunca te apercebeste daquele silêncio perturbador na sala de cinema, num momento em que pensas que o assassino está mesmo atrás dela e dás por ti a agarrar-te à cadeira com o suspense? Não? Ok, então talvez sou só eu que tenho medo de me assustar, e então preciso de me agarrar a qualquer coisa.

E aquele momento em que o herói acabou de declarar o seu amor e existe uma música de partir o coração atrás? Em que tu ou ficas awww…. Ou então blahhhh! (dependendo do estilo romântico que fores, eu como sou uma romântica incurável fico blahhh! Vómito! 😉

 

Música ajuda.

Todos os meus grandes momentos de ideias geniais, super-fantásticas, foram quase a ouvir música… ou a tomar banho, também ajuda.

Mas o grande segredo dos escritores é que passamos grande parte do nosso dia a sonhar acordados. A imaginar a próxima cena que se vai desenrolar na nossa história, os personagens envolvidos e como isso vai prejudicar ou ajudar a história em geral. E eu, pelo menos no meu caso, estou sempre a sonhar acordada quando estou a ouvir música.

Por isso,  agora, juntamente com a minha caneca, vou-me sentar na minha cadeira. A janela continua aberta, mas os passarinhos têm de cantar mais baixinho porque primeiro está a música.

 

O porquê das playlists?

Ora, eu estou a escrever um livro sobre criaturas sobrenaturais e, é certo que não vou pôr a tocar o “let’s go to the beach, beach. Let’s go get a wave”. Não me ajudaria a colocar-me na pele dos meus personagens. 

Há tempos estava eu muito bem na sala a escrever, e ora que entra um dos meus companheiros de casa e diz, “essa música parece ser saída de um filme de vampiros”. Aí está uma prova de que estava a fazer algo bem na seleção das minhas músicas.

A não ser que me apeteça mesmo ouvir aquele CD novo daquela banda, ou alguém me diga “esta banda é fixe, devias ouvir”, o meu media player consiste de playlists com o intuíto de me fazer entrar no mundo que criei dentro da minha mente. E maior parte das músicas contidas nos playlists, ou são músicas que me ajudam a marcar o tom da minha história, ou músicas que eu estava muito distraidamente a ouvir, quando aquela frase me marcou profundamente e parecia estar a contar directamente a história do meu personagem. Basta apenas uma frase, mas aquela frase marcou-me e vai para o meu playlist à espera de me inspirar novamente para esse personagem.

E quem não quer ouvir uma balada, enquanto reúne o herói e a heroína e pensa “awww… se eu não tivesse nascido para ser escritora devia ter ido para cupido”!

Portanto, sim, juntei-me a essa maré que anda aí a criar playlists para os seus romances. E já criei duas, uma para o primeiro e outra para o segundo.

O que é certo é que agora, depois de o ter deixado algum tempo pousado, voltei ao rascunho do meu primeiro manuscripto e há sua respectiva playlist. E os versos das canções conseguem trazer-me de volta para o momento em que imaginei as suas cenas, e como sentia a dor e felicidade do meu personagem enquanto descrevia os seus momentos.

Mas quando se trata de realmente concentrar-me, concentrar-me a sério, ainda preciso dos passarinhos a cantar e o silêncio antes de tudo.

Patricia Morais é autora de «Sombras» publicado pela Coolbooks. E porque acredita que ainda não passa demasiado tempo à frente de um computador a escrever, ainda regista no seu blog as suas experiências de escrita e traduz os conselhos de outros autores de língua inglesa.

Patricia Morais com E-book de Sombras

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