Entrevista à Livraria Good Books

A Sociedade de Escritores Portugueses, apesar do seu nome, é um projeto dedicado a todo o mercado editorial, que ambiciona criar uma comunidade literária mais unida entre escritores, bloggers, livrarias e editoras. De forma a ficar a conhecer – e dar a conhecer a outros autores e aspirantes a autores -, entrei em contacto com a Livraria Goodbooks e fiz umas perguntas sobre temas que abordam os desafios que as livrarias independentes enfrentam, e como podemos ajudar-nos mutualmente.

1. Fala-nos um pouco sobre o que é a Livraria Good Books, e de que forma dirias que diferencia das outras?

A Livraria Good Books é um projeto que nasceu de um sonho em comum. Diferenciamo-nos pelos nossos dois pilares essenciais: o amor aos livros e a sustentabilidade. 

O amor aos livros está presente em tudo, desde a escolha dos próprios livros à decoração. Gostamos de apostar em editoras que não se encontram facilmente no mercado (ou não estão, de todo, no mercado), em autores portugueses, em autores independentes e, claro, em livros com mais de 18 meses, que não estão sujeitos ao escrutínio da lupa das novidades. Além disso, tentamos motivar a leitura. Queremos que as pessoas possam (voltar a) apaixonar-se pelos livros. Este trabalho é feito nas redes sociais e no blog da livraria.

A sustentabilidade está especialmente presente nos livros em 2.ª mão. Queremos dar-lhes uma nova oportunidade de vida, em vez que acabarem numa estante que já não lhes dá valor ou no lixo. É por isso que também gostamos de apostar em livros menos conhecidos e em livros que já saíram do mercado das novidades; afinal, qual seria a probabilidade de voltarem a ter destaque nas estantes e encontrarem um(a) leitor(a)? Desta forma, não estamos a contribuir para papel que é usado e não visto. Para ajudar o planeta, não usamos sacos de plástico na livraria, apenas de papel. O envio de fatura pode ser feito por email, o que poupa uma folha de papel. São os pequenos gestos que, repetidos várias vezes, fazem a diferença.

2. Numa altura em que muitas livrarias independentes parecem estar a fechar, vocês decidiram abrir a vossa. De onde veio a ideia? Como conseguem competir com as grandes redes de supermercado e livrarias de cadeia?

A Livraria nasceu de um sonho que tínhamos em comum. Um dia, virámo-nos uma para a outra e dissemos: “vamos abrir uma livraria!” Somos bastante determinadas e o sonho virou realidade numa questão de meses. Sempre pensámos em ter um espaço físico, aliado ao online, porque é importante existir um contacto com os livros físicos. Como a livraria física não se encontra num centro urbano, e por não existir uma livraria num raio de vários quilómetros, a Livraria Good Books não só acrescenta valor ao local onde está como também toca o coração das pessoas que ali vivem. 

A abertura de um negócio, especialmente de uma livraria, é uma maratona e não um sprint. Há altos e baixos. Nos baixos, é preciso manter a resiliência. Nos altos, é preciso manter a honestidade. Hoje em dia, vemos livrarias a fecharem, mas estas estão maioritariamente localizadas em zonas mais urbanas, onde o ritmo de vida é muito acelerado e os preços são absurdamente altos. O mercado livreiro trabalha com margens muito pequenas, então é claro que o que está a acontecer é apenas a inevitabilidade de anos e anos sem regulamentação e do aumento do custo de vida.

Em relação às grandes superfícies e às livrarias em cadeia, é preciso relembrar que todas as pessoas que compram livros têm uma enorme responsabilidade na manutenção das livrarias independentes (e dos negócios pequenos e locais em geral). Relembro que, quando veem um livro a 50% numa grande superfície, as editoras não fazem esse desconto às livrarias independentes. Não queremos julgar ninguém, mas é uma grande responsabilidade que se toma quando se compra um livro a 50% a uma grande superfície e não se compra o PVP desse livro a uma livraria independente. Os grandes descontos alimentam o consumismo e, no geral, não ajudam ninguém. Não ajudam as editoras que tiveram que fazer um desconto absurdo para ter vender aquele livro em saldo nem ajudam as livrarias independentes que não são capazes de fazer esses descontos.

É por isso que não queremos competir com as grandes superfícies. Retomando um pouco a resposta à pergunta anterior, gostamos de apostar nos livros que não veem facilmente nas prateleiras das grandes superfícies do consumismo.

3. Num país tão pequeno que é Portugal, e tendo o nosso país uma comunidade literária ainda mais pequena, acham que os laços entre livraria independentes e autores nacionais deviam ser maiores?

Claro que sim! Acho que é muito importante acenar e dizer “eu estou aqui!”, tanto para as livrarias independentes como para os autores nacionais. Não somos ostracizados, mas as pessoas duvidam. 

Vou contar uma pequena história, que é regular na livraria física: como temos muitos autores nacionais que não estão à venda nos outros canais mais convencionais, as pessoas passam ao lado, nem sequer tentam saber qual é a história do livro. Cabe a nós insistirmos e, felizmente, a maior parte das pessoas acaba por sair da livraria com um livro de um autor nacional do qual nunca ouviu falar. 

É uma responsabilidade nossa dizermos perante o público quem somos, o que fazemos e mobilizar as pessoas a apostarem em nós porque não há ninguém que vá fazer esse trabalho por nós. Hoje em dia, um autor raramente vive apenas dos livros que escreve e é necessário apostar cada vez mais na divulgação, sabendo sempre que o “não” está garantido e continuar a trabalhar para chegar ao “sim”. 

Quando se trabalha em conjunto, esta tarefa fica muito mais facilitada e acabamos sempre por alcançar público que ainda não tinham ouvido falar de nós. Acaba sempre por trazer vantagens: as pessoas ficam a saber que o autor existe e que podem comprar o livro na livraria independente. Neste caso, são as grandes superfícies que ficam a perder porque não apostam no que é bom e nacional.

4. Livraria independentes e autores nacionais têm uma coisa em comum: a falta de visibilidade. O que achas que pode ser feito para se ajudarem mutualmente? O que podem os escritores portugueses fazer pelas livrarias independentes e, o que pode a Livraria Goodbooks fazer pelos autores nacionais?

Acontece com alguma frequência os autores nacionais dirigirem-se à livraria para perguntar se podem ter o seu livro na Livraria. Agradecemos e motivamos bastante este contacto: apesar de estarmos sempre atentas, os nossos olhos não chegam a todo o lado e desta forma ficamos a saber que existem!

Normalmente, é-nos dado um exemplar do livro e vemos se ele se adequa, ou não, ao público da livraria. É de ressalvar que o público da livraria física e da online é diferente e tentamos sempre fazer uma ponte entre os dois. Caso o livro seja bom, se adeque à livraria e trabalhemos com essa editora, podemos tê-lo. Caso ainda não trabalhemos com essa editora, anotamos o nome do autor e, assim que apareça a oportunidade de trabalharmos com a editora, podemos pedir o livro. 

Os autores independentes podem (e devem!) divulgar os locais onde os seus livros estão para venda. Posso garantir que é uma maneira eficaz de se vender o livro. Já tivemos casos de leitores que foram à livraria comprar um livro específico porque o autor divulgou que podiam comprar o livro na Livraria Good Books. De um ponto de vista mais comercial isto é excelente porque a venda constante de alguns autores motiva-nos a ter o livro do autor disponível para venda.

5. Sou autor e gostaria de ver os meus livros na Livraria Goodbooks, o que posso fazer?

Podes enviar um e-mail para livraria.goodbooks@gmail.com e falares sobre essa possibilidade. Pedimos que digam que livros têm publicados, de que géneros literários e a editora.

6. Sou autor/blogger e gostaria de ajudar a Livraria Goodbooks nas redes sociais, o que posso fazer?

Podes divulgar os posts das nossas redes sociais e os livros disponíveis na Livraria nas tuas redes sociais, identificando a livraria. Assim, também conseguimos ver! Podes seguir-nos no Instagram, @livrariagoodbooks e falares connosco, adoramos falar de livros! 

 

Para todas as pessoas que estão a ler, relembramos que é cada vez mais importante apoiar os pequenos negócios e ter consciência dos nossos hábitos de compra.

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